Covid-19 mata quatro vezes mais mineiros do que os homicídios

Em menos de nove meses, em Minas Gerais, a Covid-19 já matou quatro vezes mais que os homicídios registrados de janeiro a novembro deste ano. No período, enquanto 2.323 pessoas foram assassinadas, outras 10.041 morreram em decorrência da doença causada pelo novo coronavírus, até o último dia 30. Desde então, às estatísticas, somaram-se mais 968 óbitos de pacientes que foram infectados.

Especialistas alertam que os números confirmam o quanto a enfermidade surgida no fim de 2019, na China, é letal. Também reforçam a necessidade da manutenção das medidas preventivas, em especial nos próximos dias, quando muitas famílias devem se reunir para celebrar o Natal e o Réveillon.

Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano explica que, em um grupo de cem pessoas, de 15 a 20 delas, em média, vão desenvolver a forma mais grave da Covid. De cinco a dez devem demandar internação em Unidades de terapia Intensiva (UTIs). “E isso acontece, principalmente, entre idosos, obesos, hipertensos, diabéticos, pessoas que tenham doenças autoimunes, porque a defesa orgânica desses indivíduos está um pouco abaixo da ideal para combater o vírus”, frisa o especialista.

Segundo a Sociedade Mineira de Reumatologia, a taxa de letalidade da Covid-19 em reumáticos é de 5,8%, ante 3% no restante da população. Ainda conforme a entidade, quem toma remédios que baixam a imunidade, como imunossupressores e os corticoides em doses um pouco mais altas, apresentam situações piores. Os especialistas afirmam que essas pessoas têm maior frequência de admissão na UTI, entubação e internação, além de morte

Inflamação sistêmica

Ainda conforme o médico, que atua no Hospital Madre Teresa, em Belo Horizonte, o vírus ataca vários órgãos. “Inflama, por exemplo, os pulmões, o intestino, o fígado, os rins e o próprio cérebro. Essa inflamação sistêmica, principalmente do pulmão, dificulta o funcionamento dos órgãos e as pessoas morrem por disfunção orgânica, ou seja, o paciente não conseguiu trocar o oxigênio por gás carbônico”.

Esse quadro se dá pela entrada direta do vírus nesses órgãos. Depois, o próprio organismo tentando eliminar o “invasor”, pode causar uma resposta inflamatória alta que, ao invés de ajudar, causa mais danos aos órgãos. “Se essa resposta for exagerada, o tiro sai pela culatra, atrapalha, não deixando os órgãos funcionarem bem”, complementa Estevão Urbano.

Um dos grandes desafios para se evitar mortes em decorrência do novo coronavírus, principalmente de quem já está hospitalizado, é a falta de um medicamento que tenha se mostrado efetivo de fato. “Nada que ainda se pode ter comprovado pela literatura”, destaca o infectologista.

Criminalidade

Os homicídios registrados de janeiro a novembro deste ano tiveram queda de 5,8% se comparado ao mesmo período de 2019, conforme os dados divulgados pela Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Apesar da quarentena ter impactado na redução de outros crimes violentos, como furtos, no caso dos assassinatos a diminuição decorre do trabalho integrado entre as forças policiais.

“A luta por espaços de controle pelo crime organizado, na prática do narcotráfico, não respeitou o isolamento social. Então, nessa prática, não houve qualquer alteração, mesmo assim o homicídio caiu”, disse titular da pasta, general Mario Lucio Alves de Araujo, durante entrevista coletiva na última quarta-feira.

Fonte: Hoje em Dia