Na linha de frente no combate ao coronavírus, médicos, enfermeiros e técnicos são mais expostos à doença
Na linha de frente no combate à Covid-19 e mais expostos ao vírus, profissionais de saúde têm perdido a vida enfrentando a pandemia. Em Minas Gerais, 787 servidores de unidades hospitalares morreram em decorrência do novo coronavírus, e outros 17.277 foram infectados.
Os números são da Secretaria Estadual de Saúde (SES), e contabilizam os casos registrados de março do ano passado até o último dia 4. O levantamento revela que o mês de julho foi o mais letal. Na ocasião, 169 pessoas entre médicos, enfermeiros, técnicos e profissionais de outras áreas foram dizimadas pelo vírus.
Foi justamente neste período que Edvânia Magna da Costa Silva, de 49 anos, infectou-se. Técnica de enfermagem no Hospital Risoleta Neves, em Belo Horizonte, e em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), em Contagem, na Grande BH, ela temeu pela vida quando sentiu no próprio corpo os males provocados pela enfermidade.
“Fiquei 15 dias acamada com muitas dores no corpo e na cabeça, sem paladar e olfato, e com infecção urinária. Seis meses se passaram, e ainda sinto incômodo nas costas”, recorda.
Se não bastassem todos os males provocados pela doença, Edvânia ainda contaminou o marido e a filha. “Tive muito medo, pois, diariamente, vejo pessoas morrendo em virtude do vírus. Sei que sou mais suscetível por estar dentro de um hospital. É o meu trabalho. Mas me revolta ver tanta gente desdenhando da doença, enquanto nos arriscamos para salvar vidas”, lamenta.
Balanço
O levantamento da SES inclui os profissionais mortos e infectados nas redes privada e pública, tanto municipal quanto estadual. Somente na Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), que engloba os hospitais do Estado, 1.313 servidores das áreas administrativas e assistenciais testaram positivo para Covid-19.
“Dos profissionais que atuam na assistência, foram cerca de 220 médicos, 100 enfermeiros e 500 técnicos de enfermagem, entre diversas outras funções (analistas, fisioterapeutas, psicólogos, técnicos de patologia/ radiologia, terapeutas ocupacionais, auxiliares administrativos, fonoaudiólogos, entre outros)”, informa o Estado.
Apesar dos casos registrados, a SES garante adotar todas as medidas para conter a transmissão do novo coronavírus nas unidades de saúde. “Entre as recomendações estão orientações contínuas aos trabalhadores sobre evitar tocar superfícies próximas ao paciente, supervisão do uso correto dos EPIs, promover treinamento de todos os profissionais dos serviços de saúde, entre outras”.
Além disso, a pasta ressaltou que acompanha com atenção a situação dos profissionais doentes. “Para os infectados, a SES-MG mantém determinações de afastamento”, assegura.
Cuidado
Infectologista e membro do Comitê de Combate à Covid-19 em BH, Unaí Tumpinambás lamentou o alto índice de profissionais da saúde mortos e infectados no Estado. “Assusta e surpreende. Quem trabalha em hospitais e postos tem prevalência maior da doença e, muitos, ainda têm fatores de risco. É importante que todos protejam o sistema de saúde e os profissionais, seguindo as medidas sanitárias para conter a doença”, alerta, ressaltando que o uso de máscara e o distanciamento social são essenciais para frear o avanço da pandemia.
Pneumologista, intensivista e diretor do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Maurício Meireles Goes frisou que os profissionais de saúde devem denunciar quaisquer irregularidades que os coloquem em risco.
“Criamos um canal de denúncia para saber se estão recebendo os equipamentos de segurança e trabalhando adequadamente neste momento de crise sanitária. Os profissionais da saúde são mais expostos, e qualquer irregularidade ou descuido pode ser fatal”.
O TEMPO