Enfermeira de 42 anos morre três horas após ser internada por Covid-19

Karla Michelle deixa dois filhos, de 2 e 10 anos, e o esposo
Foto: Ítalo Silva de Souza / Arquivo pessoal

Karla Michelle era hipertensa e passou a semana anterior à internação com sintomas relativamente leves da infecção pelo coronavírus, em casa

Especializada em partos humanizados, inclusive domiciliares, a enfermeira Karla Michelle do Valle de Souza, 42, viu-se cheia de trabalho durante a pandemia, já que muitas gestantes com quem trabalhava queriam evitar os hospitais. Muito ativa e detalhista, ela não gostava de exposição, mas seu marido decidiu compartilhar a história da esposa como um alerta: após uma semana com sintomas leves de Covid-19, ela morreu por complicações da doença menos de três horas depois de dar entrada no hospital, no último domingo (27), em Belo Horizonte.

“A história da Michelle é muito bonita e o que aconteceu foi algo trágico. É importante que as pessoas saibam. Ela tinha 42 anos, era profissional da saúde, mas não lidava com Covid-19 e era igual a mim e a você, talvez se cuidasse até mais, porque lidava com pessoas do grupo de risco da doença”, diz o esposo, o contador Ítalo Silva de Souza, 42.

Após pouco mais de uma semana desde os primeiros sintomas, que até então se resumiam a perda do olfato e mal-estar, ela teve uma piora brusca e morreu por complicações cardiorrespiratórias em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), por volta das 16h25, depois de menos de três horas desde que tinha chegado ao local com o marido e sido atendida prontamente. Como quase 24% dos brasileiros com mais de 18 anos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Karla era hipertensa, portanto do grupo de risco para a Covid-19.

Ainda assim, a morte da enfermeira deixou o marido e, de acordo com ele, a equipe de atendimento perplexos. O pulmão de Karla não estava muito comprometido, como revelou uma chapa feita no local, e a médica da unidade até repensou a internação, já que o quadro da enfermeira parecia relativamente estável — mesmo ofegante, ela conseguia caminhar e, até o dia anterior, realizava atividades em casa normalmente.

“Estávamos afastados por uma porta entreaberta, ela estava em uma maca no fundo e eu falava com ela a partir de gestos. Fazia sinal de positivo, de que tudo daria certo, porque estava bem prostrada e assustada”, lembra Ítalo. Foi com gestos e olhares que ele se comunicou com a esposa pela última vez. Pouco tempo depois, ela passou a ter muita dificuldade para respirar e a equipe do hospital não conseguiu salvá-la.

Evolução

Os primeiros sintomas de Karla começaram no dia 18 deste mês, uma sexta, alguns dias após Karla ter tido contato com uma pessoa com confirmação de Covid-19. Nos dois primeiros dias, passou bem, só com leve perda de olfato, mas depois do terceiro viveu uma rotina de idas e vindas com os sintomas, em alguns momentos se sentindo bem disposta e, em outros, prostrada na cama, conta seu marido. Ela procurou um médico pelo convênio no começo da semana, que indicou apenas que fizesse um teste de Covid-19.

No dia após o Natal, ela acordou bem disposta e passou o dia assistindo a filmes com a filha mais velha, de 10 anos, depois de um churrasco em casa com o marido e os dois filhos. O cenário mudou no dia seguinte, pouco mais de uma semana depois dos sintomas iniciais. “Eu disse que faria o almoço e que ela não precisava se preocupar. Ela tinha começado a mexer com as panelas e disse para irmos à UPA agora”, lembra o marido.

Karla deixa dois filhos: Noah, de 2 anos, que parou de mamar no peito poucas semanas antes da internação da mãe, e Israelly, de 10. A enfermeira é lembrada pelo marido como uma mulher estudiosa, carinhosa, que amava a Serra do Cipó, os filhos e o trabalho.

Fonte: O TEMPO