Fila de transplante de rim cresce, mas o número de doadores ainda é reduzido

Você ficaria em uma fila por três, seis ou dez anos? A fila de transplante de órgãos no Brasil passa de 50 mil pessoas de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos — e a maioria espera por um rim: 29.690 pacientes.

Há muitas pessoas que aguardam por um transplante renal que estão nesta espera angustiante e não sabem quanto tempo levarão para receberem um rim, órgão que pode ser doado também em vida.

Foto: Ascom/HNSD

Tiago Dias Souza é daqueles itabiranos de ferro, forte. Ele tem 37 anos e faz tratamento de hemodiálise há 20 anos, contrariando a expectativa de vida média após o tratamento, que é de dez anos. É o mais jovem dos pacientes, mas também o que tem mais tempo na hemodiálise. É casado e tem uma filha de 12 anos. Tiago tem uma vida ativa, joga futebol, pratica pilates, gosta de viajar e de ficar com a família.

Ele faz tudo isso dedicando 4 horas por dia, três vezes na semana, ao tratamento de diálise no Hospital Nossa Senhora das Dores (HNSD). Tiago conta que quando entrou para hemodiálise, aos 17 anos, não tinha ideia do que era o tratamento, durante este tempo viu muitos colegas, pacientes, que esperavam pelo transplante e falecerem na fila de espera.

Aos 31 anos Tiago fez o primeiro transplante, mas infelizmente teve rejeição 2 dias após a cirurgia. “Não vejo a rejeição que tive com sofrimento. Eu não tenho medo de morrer, tenho muito medo de não viver, porque a vida é extraordinária, é incrível”, enfatiza Tiago.

Neste momento, Tiago está na fila de transplante pela segunda vez. Uma espera que já dura seis anos.  Ele diz que “é importante que as pessoas saibam que em geral o tratamento de hemodiálise é pesado, desgastante, exige adaptações e é sofrido”. Mas o recado que ele tem para outros pacientes que também esperam por um doador é: “Não percam a esperança, mas VIVAM”.

O transplante

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), o Brasil registra aproximadamente 140 mil pacientes em tratamento de hemodiálise e o número de transplantes é reduzido. O coordenador da Hemodiálise do HNSD, o nefrologista dr. Marco Antônio Gomes, explica que “a doença renal crônica é silenciosa. Hoje vivemos uma epidemia. O paciente entra, mas tem um mau mecanismo de saída de diálise. O tratamento definitivo é o transplante”, explica.

O transplante renal é possível após a morte ou com doador vivo. “O doador que tem uma morte encefálica em que o coração continua funcionando, o rim continua funcionando e o pulmão continua funcionando está em condição de terapia intensiva e, mesmo que a pessoa tenha escrito ou falado que pode retirar os seus órgãos, após a morte a família é consultada. O doador vivo pode ser o pai, a mãe, o irmão, o primo de primeiro, segundo ou terceiro grau. Até o cônjuge pode doar”, explica Marco Antônio Gomes.

Esta semana, no dia 27 de setembro, foi comemorado o Dia Nacional do Doador de Órgãos. O médico manda um recado àqueles possíveis doadores em vida: “eu quero dizer que estão doando amor e que quem doa permanece com um rim podendo viver naturalmente”, finaliza.

O HNSD tem, hoje, 35 pacientes aguardando o transplante renal e um aguardando transplante de rim e pâncreas, além de 53 pacientes em processo de avaliação pré-transplante.

Se você pretende ser um doador de órgãos após a morte, converse com sua família e deixe claro este desejo. Há pessoas na fila de um transplante aguardando por aquele telefonema que mudará para melhor as suas vidas.