Internações de crianças e jovens por pneumonia cresceram 74%

Com a queda de temperatura, não demora muito para que os sintomas respiratórios apareçam. Mas a persistência dos já velhos conhecidos nariz escorrendo, tosse e garganta irritada podem denunciar doenças mais sérias. Principalmente para crianças e adolescentes de até 14 anos. Em Belo Horizonte, as internações por pneumonia para esse público cresceram 74% com relação a janeiro, em pleno verão.

Enquanto no primeiro mês do ano foram 64 internações para tratamento de pneumonia na Rede SUS-BH, em maio, até a última atualização da prefeitura, 111 crianças e jovens precisaram ser hospitalizados com a doença. A situação é mais alarmante para os pequenos de até 4 anos, que representam mais da metade dos leitos. Nesse caso, as internações saltaram 126%, saindo de 27 pacientes internados para 61.

O diretor de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de Belo Horizonte, Paulo Roberto Corrêa, avalia que o aumento já era esperado para o período, e pediu reforço dos atendimentos de saúde. “Doenças respiratórias ocorrem durante todo o ano, mas durante o outono e inverno, que estamos vivendo agora, é mais propício para a disseminação desse vírus e bactérias. Foi por isso que ampliamos o funcionamento nas unidades de saúde para os finais de semana, já prevendo a alta de demanda”, afirma.

Nesse último fim de semana, por exemplo, cinco Centros de Saúde funcionaram das 7h às 18h no sábado (20), e o Centro de Saúde Rio Branco, na região Norte, também abriu no domingo (21). “Além disso, houve aumento dos leitos de internação hospitalar no Odilon Behrens e no Hospital Infantil João Paulo II para atender as crianças que demandam internação”, continua, garantindo que não houve sobrecarga no sistema de saúde. Na capital, entre os meses de janeiro e março, por exemplo, os leitos pediátricos clínicos e de UTI apresentaram uma taxa de ocupação média de 67%.

Casos mais graves: infecção dos brônquios e pulmões

Segundo o diretor, o que explica a necessidade de internação são as características do chamado vírus sincicial respiratório (VSR), que pode infectar os brônquios e os pulmões. “É um vírus que causa quadro respiratório mais grave que a gripe, por exemplo. Se manifesta muito pela tosse, e está presente nos casos de pneumonia e bronquiolite. Para eles, nós não temos vacina, o que agrava ainda mais o caso”, alerta.

O médico da família e da comunidade Artur Oliveira Mendes chama atenção para a facilidade de disseminação desses vírus em dias mais frios. “Além de estarmos mais sensíveis nas vias aéreas, é comum a convivência em lugares fechados, até para fugir do frio, e ambientes abafados facilitam ainda mais o contágio. Um percentual acaba sendo internado”, explica.

Para as crianças, o risco da doença gerar complicações é mais alto, o que explica os índices maiores nos pequenos de até 4 anos. “Nas crianças, é potencializado. A depender da idade, existe uma imaturidade do sistema imunológico para se defender. E a convivência em família, em creches e escolas faz circular vírus e bactérias”, continua o médico Mendes. “Aquelas que têm problemas como asma e rinite, por exemplo, estão ainda mais vulneráveis”, alerta.

Grupos mais vulneráveis às doenças respiratórias

Outros grupos também devem reforçar os cuidados nesta época do ano. “Além das crianças, os idosos principalmente. Ainda, aqueles que são portadores de doenças autoimunes, que lidam com insuficiência cardíaca, enfisema, asma, que estão em tratamentos sensíveis, como o do câncer. O indicado é mesmo reforçar a proteção”, aponta o doutor.

Os vírus estão no ar

Entre janeiro e abril deste ano, o número de atendimentos para doenças respiratórias saltou de 23.510 para 42.233. O levantamento, feito pela Secretaria Municipal de Saúde, aponta um aumento de 79% neste período. Os dados consideram os pacientes que procuraram por atendimentos nas nove Unidades de Pronto Atendimento (Upas) e nos 152 Centros de Saúde da capital.

“Esse aumento já era esperado com a queda de temperatura. A tendência é que piore com a chegada do inverno, e estamos reforçando as unidades de saúde para isso”, afirma o diretor Paulo Roberto Corrêa.

Resfriado, gripe, covid-19, vírus sincicial respiratório (VSR). Apesar de diferentes doenças, os sintomas são parecidos. Para enfrentar o aumento dos casos e evitar a confusão no diagnóstico, a prefeitura faz o monitoramento dos vírus na capital. “Contamos com unidades sentinelas em que identificamos, investigamos e notificamos os vírus que estão circulando na cidade, e com que constância”.

Foi por isso também que a vacinação da gripe foi adiantada. “Nós começamos a vacinação contra influenza uma semana antes em BH com a intenção de vacinar o maior número de pessoas, numa estratégia de proteção e para minimizar os riscos de confusão com a covid”, afirma o diretor.

Para quem está com os sintomas, o recomendado é acompanhar a evolução do bem-estar ao longo dos dias. “Se os sintomas estiverem persistindo, principalmente com quadro febril, de dois, três dias, sem melhora, é hora de buscar atendimento médico. Na dúvida, é bom fazer uma consulta e evitar uma complicação de saúde”, orienta o médico Artur Oliveira Mendes.

Resfriado causou complicações em criança com asma

Às 00h do domingo passado (21), Pedro Henrique, de 11 anos, entrava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ibirité, na região metropolitana de Belo Horizonte, com uma tosse interminável. “Pedro já tem asma e acaba tendo crises volta e meia. Foi só mudar a temperatura que ele começou a chiar”, conta a madrasta, Mariana Ribeiro, autônoma de 34 anos.

Mas, dessa vez, os sintomas pioraram com os dias. “Ele não parava de tossir. Quando cheguei do serviço, no domingo, não tive como não levar ao médico. Pedro estava com saturação baixíssima, nem com bombinha a crise de asma passava”, continua. Na mesma semana, o menino já estava com sintomas de gripe. Foi quando começou a tossir. “Durante o dia, ele ficava bem. Era só anoitecer, quando o frio ficava mais intenso, que começava a crise. Fiz chá, dei remédio, não melhorava”, diz.

Pedro Henrique e a madrasta ficaram cerca de oito horas na UPA. “Nós fomos para a urgência e ele teve que ficar em observação, tomava jato de bombinha de meia em meia hora. Esperamos até que ele melhorasse, e fomos liberados só na segunda pela manhã”, diz Mariana. Segundo ela, mesmo assim, o menino só foi melhorar cerca de uma semana depois. “Começamos a tomar mais cuidado. Tomar banho só de tarde, porque de noite é mais frio. Depois, bastante roupa, calça, blusa de frio, coberta. E deixo a casa arejada de tarde para que circule ar”.

Confira cuidados

De acordo com o médico da família Artur Mendes, alguns cuidados podem amenizar os sintomas de doenças respiratórias e evitar complicações. “O reforço na hidratação é bem-vindo. Agasalhar ao máximo também é essencial. Na hora de tirar os agasalhos do armário, uma vez que eles ficaram um tempo sem uso, é importante lavá-los, tirar a poeira, para evitar crises de rinite. Outra coisa é manter os ambientes arejados”, pontua.

A vacinação também foi apontada como parte importante da prevenção. “E com isso eu digo vacinação com a bivalente, contra a gripe, e, também, de rotina das crianças, inclusive contra a meningite. Aumentar a imunidade é a principal forma de evitar complicações de saúde, e nós temos a vacina, então é só vacinar”, afirma Corrêa. Ele reforça que não há problema nenhum em tomar mais de uma vacina por vez. “Possíveis reações serão mínimas com relação à doença em si”.

  • Umidificador funciona mesmo? “No período de frio, cai a umidade do ar.   Então, os umidificadores ajudam sim. O importante é só limpar o item antes de usá-lo, retirando o acúmulo de poeira”, responde o doutor Mendes.
  • E a máscara, precisa usar? “Nós estamos falando de doenças infectocontagiosas, então a máscara minimiza o risco de contágio. É um aprendizado da pandemia que veio para ficar. Com quadro de resfriado, gripe, quem usa máscara escolhe proteger as outras pessoas”, aconselha Mendes.

Ações de enfrentamento

Em Belo Horizonte, o sistema presta assistência adequada à criança com asma por meio do acompanhamento clínico, da orientação aos familiares e profissionais de saúde sobre a doença e seu manejo, e do fornecimento de medicamentos e insumos necessários. É realizado pelo Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF) em todos os Centros de Saúde.