Patrimônio da Humanidade Unesco no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba

O reconhecimento do Queijo Minas Artesanal como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco é uma conquista que enaltece não apenas o produto, mas também os territórios, as comunidades e os modos de vida que sustentam essa tradição secular. Minas Gerais, com sua diversidade geográfica e cultural, abriga dois grandes biomas, o Cerrado e a Mata Atlântica, separados em parte pela imponente Cordilheira do Espinhaço. Essa formação natural, além de moldar a paisagem, influencia diretamente a cultura alimentar mineira, estabelecendo condições para o desenvolvimento de um queijo singular, em que o terroir se reflete na textura, no sabor e no aroma.

A paisagem cultural onde se inserem os modos de fazer o Queijo Minas Artesanal é um ambiente fecundo, no qual a agricultura familiar desempenha um papel central na produção e no consumo sustentáveis. A partir dessa prática, fortalece-se o tecido socioeconômico local, combatendo a pobreza, a fome e as desigualdades.

Os saberes transmitidos entre as gerações envolvidas na produção do queijo consolidam não apenas um produto reconhecido internacionalmente, mas também um instrumento de democratização da renda e de melhoria da qualidade de vida. É nesse horizonte que o queijo deixa de ser apenas um alimento para assumir um papel de resistência, inovação e inclusão, refletindo o equilíbrio delicado entre a natureza, o trabalho humano e o conhecimento acumulado ao longo de séculos.

Nos territórios produtores inseridos no Cerrado, como a região de Araxá, que reúne Araxá, Campos Altos, Conquista, Ibiá, Pedrinópolis, Perdizes, Pratinha, Sacramento, Santa Juliana, Tapira e Uberaba, o cuidado artesanal e o manejo sustentável do gado resultam em um queijo de sabor equilibrado. Nesses lugares, a produção não só mantém viva a herança cultural, como também atrai o turismo, gerando oportunidades e promovendo o desenvolvimento regional.

Já no Triângulo Mineiro, incluindo Uberlândia, Araguari, Monte Carmelo, Cascalho Rico, Indianópolis, Nova Ponte e Tupaciguara, a tradição queijeira encontra solos férteis e saberes profundamente enraizados, permitindo a produção de queijos marcantes, que conectam a identidade local à riqueza do bioma cerrado.

No Alto Paranaíba, com cidades como Patos de Minas, Serra do Salitre, Carmo do Paranaíba, Coromandel e Presidente Olegário, a produção queijeira expressa a essência desse ambiente singular. Serra do Salitre, por exemplo, atua como elo entre diferentes territórios, reforçando o papel estratégico da região na integração de inovação e tradição. Na Serra da Canastra, compreendendo Bambuí, São Roque de Minas, Medeiros, Delfinópolis, Piumhi, Tapiraí e Vargem Bonita, o turismo de experiência se soma à produção de queijos excepcionais. Aqui, visitantes podem vivenciar o processo produtivo e mergulhar nas paisagens naturais, estabelecendo uma relação mais profunda com o território e seu patrimônio.

Assim, o título da Unesco não apenas celebra a excelência gastronômica do Queijo Minas Artesanal, mas também reafirma a importância do ambiente cultural e ecológico no qual se desenvolve. Ao valorizar esses territórios e as práticas que eles abrigam, Minas Gerais consolida seu papel singular, inserindo-se em um grupo restrito de apenas sete países do mundo a possuir um patrimônio alimentar dessa natureza.

Cada pedaço de queijo carrega o sabor da diversidade, da memória e da identidade, refletindo o papel central da agricultura familiar e do saber tradicional no fortalecimento das economias locais. Trata-se, portanto, de um patrimônio vivo que, ao conciliar produção e sustentabilidade, comprova que o alimento pode ser, simultaneamente, fonte de nutrição, inclusão social e empoderamento cultural.

Leônidas de Oliveira

Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais