Esse é um dos seis inquéritos instaurados pela Corregedoria da PMDF para investigar a conduta dos policiais durante os atos criminosos do dia 8 de janeiro. Um dos outros cinco procedimentos apura por que policiais do Batalhão de Choque “não impediram a entrada dos manifestantes no Congresso Nacional”, e porque outros agentes, como traz o relatório, “estavam conversando e tirando fotos no momento da invasão de prédios públicos na Esplanada dos Ministérios”.
Outro inquérito apura “a conduta dos policiais militares que recuaram, facilitando o acesso de manifestantes ao prédio do Supremo Tribunal Federal (STF)”. Há ainda uma investigação dedicada apenas aos comandantes da corporação, incluindo do ex-comandante da PMDF Fábio Vieira, que está preso.
PM da reserva fazia discursos no QG, pregava intervenção e pedia dinheiro
Enquanto isso, um major da reserva da PMDF que liderou o acampamento no QG do Exército por mais de 60 dias se gaba por ter conseguido escapar do cerco policial montado no dia seguinte à frustrada tentativa de golpe de Estado e que culminou na prisão de mais de mil pessoas que estavam no local.
“Ainda não ‘tô’ preso”, escreveu Cláudio Mendes dos Santos, 49 anos, em mensagem de WhatsApp. A informação foi publicada pelo portal Metrópoles neste domingo (29). Reportagem diz que o militar usava do título de major para endossar discursos a favor da derrubada de Lula, com uma intervenção militar.
O Metrópoles publicou imagens que mostram o PM discursando no palco improvisado montado em um caminhão no QG de Brasília. Em ao menos uma das oportunidades, o militar levou o filho de 8 anos. O menino aparece no palco, ao lado do pai. Ambos vestem a camisa da seleção brasileira de futebol.
A reportagem do portal ouviu pessoas que frequentavam o QG e pessoas próximas do policial militar. Elas disseram que Cláudio dos Santos ganhava dinheiro com os atos bolsonaristas.
“No dia da posse de Lula, o policial foi figura central de uma discussão entre os próprios apoiadores de Jair Bolsonaro, que reclamaram de mais um pedido de dinheiro feito pelo Cláudio e o chamaram de covarde. ‘Só quer saber de Pix’, acusou um homem”, diz trecho da reportagem. Equipe do Metrópoles testemunhou o episódio no QG do Exército.
O salário líquido do major da reserva, após os descontos, é de R$ 34.105,99, segundo o Portal da Transparência do Governo do Distrito Federal. Nas redes sociais, que ele excluiu após os ataques bolsonaristas na Praça dos Três Poderes, o militar ainda informava que era instrutor de tiro.
Major usou uma rádio para convocar todos policiais para derrubar Lula
Dias antes do atentado, ele esteve em um programa de uma rádio comunitária fazendo convocações e pedindo cumplicidade de policiais contra manifestantes.
“Quero fazer um apelo aos meus colegas policiais. Eu sou um comandante policial, um major policial, estou na reserva, mas pelo amor de Deus. Polícia Federal, vocês contam com nosso respeito, não se vendam, não deixem alguém fazer vocês rasgarem a Constituição, não pratiquem prisões desleais. Da mesma forma a Polícia Civil”, discursou.
Na participação no programa, ele ainda diz que “o presidente foi bem claro ao dizer que as Forças Armadas estão nos apoiando” e instiga cada pessoa que votou em Bolsonaro para “encher o QG, encher a Esplanada”.
O Metrópoles lembra que a mesma a rádio fomentou discursos criminosos por mais de uma hora, pedindo até Pix para Renan Sena, bolsonarista que viria a ser preso semanas depois pela Polícia Federal por participação nos ataques à democracia.
Oficial já foi impedido de se aproxima da ex-mulher por causa de violência
A reportagem mostrou ainda que Cláudio Mendes dos Santos responde processo por violência contra a mulher. Impedido por medida protetiva de se aproximar de uma ex-esposa, ele já foi investigado por descumprir a medida, perseguir a mulher e até divulgar um vídeo com cenas sexuais dela, para familiares e filha, uma criança.
Um dos registros na Polícia Civil informa que ele chegou a ter a arma recolhida em uma ocasião. “”De acordo com uma pessoa do núcleo familiar do militar, ouvida em sigilo pela reportagem, ele também já foi alvo de ‘várias denúncias’ na Corregedoria enquanto estava na ativa da PM, mas ‘sempre acabava se safando’”.
Na ocorrência mais recente contra ele, a mãe do filho de Cláudio o acusa de fugir com o garoto de 8 anos. O documento detalha que o major saiu de Brasília “por motivos políticos”.