Wirley Reis*
O turismo mineiro e as cidades históricas de Minas Gerais passam por um momento desafiador, sem precedentes em toda sua história e trajetória. Devido a pandemia mundial do novo corona-vírus, perdemos nos últimos 60 dias dois dos mais importantes eventos em nosso calendário anual. Primeiro, em fevereiro, o Carnaval. Agora, há poucos dias, a Semana Santa.
A Semana Santa é o segundo melhor momento no turismo nas cidades históricas de Minas Gerais. Pois seus ritos, procissões e festividades são tradicionais, seculares, que remontam a religiosidade e tradições mais intrínsecas do povo mineiro. E diante dessa pandemia mundial tivemos e temos que abandonar nossas tradições seculares para cumprir o recomendado isolamento social. É bom lembra que todas as cidades históricas mineiras são essencialmente cidades turísticas, com grande fluxo de visitantes de todo o Brasil e do mundo.
Com a não realização do Carnaval e da Semana Santa, temos um impacto financeiro, cultural e social imenso, incalculável, em toda extensa cadeia produtiva do Turismo nessas cidades. Essa cadeia abarca desde as pequenas fábricas de doces e artesanatos, passa pelos serviços de hospedagem de hotéis, pousadas, alugueis de casa, lojas, e chega até bares e restaurantes, empregando uma infinidade de trabalhadores e colaboradores temporários. Muitas vezes a única fonte de renda para famílias inteiras nessas cidades é o turismo, principalmente para pequenas localidades e distritos que estavam se firmando e se consolidando dentro de uma nova modalidade de turismo em Minas Gerais, o turismo de base comunitária. E esse turismo estava em franca ascensão e desenvolvimento em comunidades rurais e quilombolas de toda Minas Gerais, após os exitosos eventos comemorativos de final de ano em 2020. Depois da festa veio a grande ressaca, potencializada por esse cenário de grandes incertezas vivido em todo o mundo.
Diante disso tudo, estamos buscando alternativas a médio e longo prazos para a retomada imediata do turismo doméstico no período pós-pandemia. Isso só será superado pelas cidades e suas administrações municipais com muita divulgação, marketing, diálogo, parcerias, criatividade e empenho, sempre tendo como foco principal de nossas ações, destacar e propagar o potencial de nossos inúmeros atrativos, que são únicos no mundo.
Não temos como imaginar uma superação desse momento desafiador sem zelar por nosso acervo e nosso povo, pelas pessoas que fazem o dia-a-dia das cidades turísticas. Pessoas que vivem espalhadas pelos quatro cantos dos municípios, cuidando do bem histórico, cultural, natural e arquitetônico que estão ao seu lado. É hora das cidades históricas olharem para dentro de sua história, reconhecer seu potencial turístico, rever e reavaliar suas riquezas materiais e imateriais. Só assim, implementando uma política de incentivo, investimento, reconhecimento e valorização de seus atrativos locais, é que vamos encontrar a base para a superação e uma nova e exitosa visão para um futuro de desenvolvimento do nosso turismo, renascido e livre da pandemia que ora nos assola.
*Presidente da Associação das Cidades Históricas de Minas Gerais e prefeito de Itapecerica