Comparação entre infectados à primeira e à segunda onda da pandemia de coronavírus no Amazonas indica que a infecção pela variante P.1. gera maior carga viral, e, portanto, mais transmissível
Análise feita por cientistas da Fiocruz Amazônia a partir da proliferação do número de infectados pela variante P.1 do coronavírus surgida no Amazonas revelou, segundo relato feito à manhã de sábado (27), que adultos infectados com a variação geram maior carga viral quando comparados com adoecidos por outras linhagens do coronavírus.
A constatação de uma maior carga viral significa que é maior a transmissibilidade do vírus a partir da variante P.1, o que contribui para que ele se espalhe mais rapidamente. Estudo, não publicado até o momento, está disponível on-line e indica medidas não-farmacológicas – como distanciamento social, uso de máscara e higienização – como capazes de frear a rápida propagação da P.1.
P.1 surge com um Re de 2,6, comparável ao do B.1.195, mas podendo ser maior (vejam os ICs). Ao comparar as duas precisamos lembrar que B.1.195 se espalhou por uma população nunca exposta ao SARS-CoV-2. Já P.1 foi tão ou mais eficaz, mesmo com algum nível de imunidade da pop.
— Tiago Gräf (@GrafTiago) February 27, 2021
Balanço feito pelo Ministério da Saúde à última terça-feira (23) revelou que além do Amazonas, outras 17 unidades da Federação já detectaram a existência de moradores infectados com a P.1 a partir de levantamentos das secretarias de Saúde. Em Minas Gerais, sabe-se que são seis registros da linhagem do coronavírus – chamada de “variante de preocupação” pelos especialistas à frente da análise.
A condução da amostragem começou em abril com o primeiro pico da doença em municípios do Amazonas quando detectou-se a presença de linhagens frequentes em outras regiões do país. Entretanto, no segundo pico registrado cerca de oito meses depois, entre o término do ano passado e o início de 2021, constatou-se o surgimento da variante P.1, que rapidamente dominou a epidemia de coronavírus na localidade. Foram 250 códigos genéticos rastreados no período.
O método para investigação, como detalhou o cientista Tiago Gräf, partiu da criação de um PCR próprio para identificação das variações do vírus. “A Fiocruz Amazonia desenvolveu um teste de PCR para diferenciar a linhagem P.1 das outras linhagens. Com isso foi possível testar centenas de amostras e observar o crescimento exponencial dessa VOC (sigla em inglês para ‘variante de preocupação’) a partir de dezembro”.
Maior carga viral: o que significa?
Comparação feita entre taxas de transmissibilidade da linhagem detectada na população amazonense no mês de abril e da P.1 pontuou que a primeira espalhou-se por um grupo de indivíduos nunca expostos à Covid-19, enquanto, por outro lado, a segunda apresentou-se tão ou mais eficaz mesmo com a imunidade de parcela da sociedade.
“Para melhor entender o que levou P.1 a este sucesso na disseminação, comparamos a quantidade de vírus nas amostras dos pacientes P.1 e não P.1. A comparação dos pacientes mostra claramente que a infecção por P.1 gera maior carga viral em adultos”, afirmou Gräf. Significa, como citado nas conclusões, que a linhagem recém-encontrada pode ser mais transmissível que variantes anteriormente detectadas no Amazonas – maior carga viral, portanto, maior quantidade de vírus no organismo, e, logo, contribui para que o coronavírus espalhe-se com velocidade mais acentuada.
Em relação a idosos, que integram o grupo de risco da Covid-19, análise indicou que pouco significaram mudanças a infecção por P.1 do padrão estabelecido na população em questão. “Talvez porque nossa amostragem era menor nesse grupo ou porque esses indivíduos são igualmente vulneráveis a todas as linhagens”, citou o pesquisador.
Medidas não-farmacológicas, como o uso de máscara e o distanciamento social, são apontadas como estratégias para frear a rápida proliferação da linhagem mais transmissível do coronavírus. Gráfico incluído na investigação indicam que a taxa de transmissão caiu no Amazonas no mês de janeiro logo que começaram a crescer as taxas de isolamento.
A comparação dos pacientes mostra claramente que infecção por P.1 gera maior carga viral em adultos. Em idosos a significância foi pequena ou nenhuma. Talvez porque nossa amostragem era menor nesse grupo ou porque esses indivíduos são igualmente vulneráveis a todas linhagens.
— Tiago Gräf (@GrafTiago) February 27, 2021